A hemostasia, um processo enzimático coordenado, desempenha um papel vital na preservação da integridade do sistema circulatório humano quando ocorre uma lesão. Esse complexo sistema envolve a interação de componentes celulares e bioquímicos para limitar a perda de sangue decorrente de danos nos vasos sanguíneos. A hemostasia é um equilíbrio entre as vias pró-coagulantes, responsáveis pela formação de coágulos hemostáticos localizados, e os mecanismos contrarreguladores de fatores anticoagulantes que impedem a propagação descontrolada do trombo ou sua degradação prematura.
Na circulação sanguínea, os fatores anticoagulantes normalmente prevalecem, garantindo a fluidez do sangue nos vasos sem a formação de coágulos. Entretanto, quando há lesão vascular, ocorre a ativação dos pró-coagulantes, resultando no desenvolvimento subsequente de um coágulo.
O Papel do Endotélio Vascular
O endotélio vascular íntegro, que constitui o revestimento interno dos vasos sanguíneos, desempenha um papel de extrema importância na preservação da hemostasia. Além do endotélio, outros agentes anticoagulantes desempenham um papel significativo nesse processo.
Propriedades Antiagregantes Plaquetárias
- Uma das funções fundamentais do endotélio vascular é repelir as plaquetas. A superfície carregada negativamente do endotélio evita a aderência e agregação das plaquetas, impedindo a formação de coágulos nas áreas não lesionadas.
Prostaglandina I2 (PGI2) e o Óxido Nítrico (NO):
As células endoteliais produzem substâncias como a Prostaglandina I2 (PGI2) e o Óxido Nítrico (NO), que são potentes inibidores plaquetários, desempenhando um papel crucial na regulação do processo de hemostasia.
Adenosina Difosfatase (CD39):
As células endoteliais produzem a enzima adenosina difosfatese que degrada o difosfato de adenosina (ADP), um potente ativador plaquetário.
Secreção pelo endotélio de NO, PGI2 e da enzima CD39
Propriedades Anticoagulantes
Trombomodulina (TM):
A glicoproteína de superfície Trombomodulina (TM), presente nas células endoteliais, se liga a trombina resultando na sua inativação. Além disso, essa interação também ativa a proteína C, que, em conjunto com a proteína S como cofator, age como um fator anticoagulante poderoso ao inativar os fatores Va e VIIIa.
Trombomodulina
Antitrombina III:
A glicoproteína Antitrombina III, sintetizada no fígado, tem a capacidade de se ligar à trombina, levando a sua inativação, impedindo a propagação descontrolada da coagulação.
Heparina:
A Heparina – molécula de glicosaminoglicano, produzida por mastócitos em diversos tecidos, com destaque para o tecido conjuntivo pericapilar, além de basófilos presentes no sangue – desempenha papel importante ao ativar a antitrombina III, uma proteína plasmática. O complexo heparina-antitrombina III resulta na inativação da trombina e do fator Xa.
Inibidor do Fator Tecidual (TFPI):
As células endoteliais secretam o Inibidor do Fator Tecidual (TFPI), que desempenha um papel fundamental na inibição da atividade do Fator X e do complexo FT-VIIa.
Propriedades Fibrinolíticas
Ativador do Plasminogênio Tecidual (t-PA):
O endotélio libera uma substância chamada Ativador do Plasminogênio Tecidual (t-PA), que é responsável por estimular a conversão do plasminogênio em plasmina. A plasmina é uma enzima que desencadeia a fibrinólise, processo no qual os coágulos de fibrina são degradados, permitindo a resolução natural dos coágulos formados durante o processo de hemostasia.
Fontes Bibliográficas:
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